Em fevereiro desse ano a Cia Baitaclã criou seu Núcleo de Treinamento de Palhaço, após um histórico de 13 anos de montagens e pesquisa. Levando em consideração que a máscara do palhaço foi o ponto de partida de sua fundação, o Núcleo de Treinamento veio para focar no palhaço atrelado a outras linguagens fundamentais para a identidade da Cia Baitaclã, sendo elas a cultura popular, a música, o circo e o teatro de rua.
O Núcleo surge com um questionamento: temos propriedade do caminho de treinamento do ator dentro de suas necessidades para uma nova criação. Seja a partir da dramaturgia, do gesto ou simplesmente de um tema. Seja em um ensaio com um direcionamento autoral ou dentro de um processo colaborativo. Temos ciência das necessidades de continuidade da formação de um ator dentro de um processo. Mas e o palhaço? Como treinar essa figura que nem sempre terá uma dramaturgia como base ou nem mesmo estará inserido dentro de um espetáculo? Como desenvolver a autonomia do artista por trás da máscara que muitas vezes não terá a condução de um diretor? Como treinar sua criação sendo que ela se dá com o contato direto com o público?
Através dos treinamentos, surge cada vez mais a vontade de compartilhar com o publico nossas experimentações e criações. Discussões sobre a função do artista na sociedade foram inevitáveis, mas além disso, foi inevitável o desejo da troca real e imediata, levando a um publico verdadeiro um trabalho de qualidade estética e de entrega.
No primeiro ensaio de "A Vidente", uma das cenas criadas dentro do Núcleo, abrimos as portas de nosso pequeno galpão sede no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Durante o mesmo, tivemos a inesperada visita das crianças do bairro que passavam em frente ao galpão. Um primeiro ensaio, ainda de improviso de idéias, com a participação direta do publico, fazendo com que a cena tomasse um caminho completamente diferente. Com a necessidade latente de experimentar diretamente com o publico as ações que idealizavamos, em nosso quarto ensaio já estavamos na praça, e a criação se deu assim, na rua, para a rua. Voltamos à sede para ensaios e marcações técnicas, além da continuidade do treinamento circense e musical. Mas as criações de cena ocorriam na rua com o jogo que necessitava da participação direta do publico. Colocar nosso picadeiro (um grande tapete redondo) no porta-malas do carro e sair sem rumo até encontrar uma praça, com velhinhos jogando xadrez, adolescentes saindo do colégio e policiais bem receptivos, é nossa forma de "montar nosso espetáculo".
Pronto! Já cumprimos parte de nosso objetivo. Estar na rua, jogando, agindo e reagindo as pessoas que nos vêem, que nos recebe e porque não, que nos rechaça. Em cima dos erros e frustrações, e dos acertos que só o publico nos proporciona, e só a rua nos recepciona. A troca já está acontecendo. Esse objetivo nós já cumprimos. E a continuação dele é... não parar mais...
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