A concepção do espetáculo "Anuário Imaginário" surgiu pelo acaso, e pode até se dizer, atendendo a pedidos do publico.
Com o sucesso de Baitaclã - Danças e Ritmos Brasileiros, festa que a Cia Baitaclã organizava mensalmente e que permitia que pessoas e grupos de diversas regiões pudessem se encontrar para tocarem e dançarem os ritmos populares, passamos a receber diversos convites para fazer a festa em outros lugares. Como não era viável levar uma festa do porte estrutural do Baitaclã à outros lugares, pensamos em como levar parte dele à outros públicos. Foi assim que surgiu o espetáculo teatral "Anuário Imaginário".
Após um ano de trabalho de mesa e de campo pesquisando alguns elementos da cultura popular brasileira, como os ritos e festejos, as danças e ritmos, o cancioneiro, locuções e oralidades, crenças, rezas, simpatias e superstições, figuras e personagens, cantigas e brincadeiras infantis, mitos, lendas e costumes, e considerando todo histórico da Cia Baitaclã no estudo das máscaras, do palhaço e do teatro de rua, criamos dois espetáculos, o drama infantil "Um Conto Nosso" sob a direção de Pedro Pires e o espetáculo de rua "Anuário Imaginário", com direção de Heraldo Firmino.
Observando nosso calendário folclórico, vimos uma ampla possibilidade de abordar tradições, muitas delas ainda fortemente presentes no cotidiano das pessoas, mesmo nas grandes cidades. Em "Anuário Imaginário" colocamos nossas experimentações de forma cronológica, passando por algumas das festas e celebrações coletivas e os costumes que as cercam. De forma interativa, o público vivencia festejos como o carnaval, o São João, o reisado e a festa do bumba-meu-boi, revivendo canções, costumes e paladares comuns a essas datas.
Percorrendo com esse espetáculo pelas mais diferentes regiões da cidade, notamos que um dos objetivos foi alcançado: a não classificação de um publico alvo. É de fato um espetáculo família, para toda ela. E se é feito na rua, é feito para todos que nela estão. Vemos crianças muitos pequenas gargalharem com os mamulengos e se deslumbrarem com o boi, adolescentes identificando a malícia de Ragonda, assim como os adultos que querem participar da simpatia pra Santo Antônio. Já os mais velhos se comovem com o momento lírico e respeitoso do Divino Espírito Santo, e que naturalmente fazem recortes de sua vida em diversos momentos da história.
É comum ter em toda apresentação ao menos uma senhora que acompanha todas as músicas do espetáculo, até mesmo as mais antigas e desconhecidas. O retorno do publico sobre o quanto a peça lhe trouxe as sensações da terra saudosa, da mãe distante, dos brinquedos da infância. Até mesmo os espectadores paulistanos identificam sua cultura popular dos paladares das festas juninas ou das cantigas de roda, e vão percebendo que não é preciso viajar até o nordeste do país pra se deparar com sua identidade cultural brasileira, pois ela reside em seu próprio quintal.
Mesmo sendo um espetáculo com algumas alusões religiosas, uma das principais referencias das festividades brasileiras, recebemos sempre o respeitoso elogio de pessoas dos mais diferentes credos, que compreendem que a expressão cultural está acima de uma posição ideológica ou espiritual.
Com um enredo simples, a história pode ser acompanhada pelo publico que fica do primeiro ao ultimo cortejo, ou pelo passante apressado da cidade, que só pode observar apenas uma cena. Tocamos, brincamos e jogamos com a rua e com aqueles que nos ajudam a fazer o espetáculo, que a cada dia ganha uma nova cara.
Toda a pesquisa da Cia Baitaclã só nos trouxe bagagem para criar um espetáculo simples, com o objetivo de encantar e divertir, aos espectadores que nos assistem e a nós, ativos espectadores desse imenso país.
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